quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Governo prorroga por mais um ano moratória da soja


A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, anunciou nesta quinta-feira a prorrogação por mais um ano da moratória da soja, acordo pelo qual as principais empresas comercializadoras o grão se comprometem a não comprar soja de novas áreas desmatadas na Amazônia.

Em vigor desde 2006, a moratória será prorrogada até janeiro de 2013, apesar de a área desmatada para o cultivo da soja ter quase dobrado neste ano em relação ao ano passado.

Conforme a Folha antecipou em 23 de junho, o desmatamento para soja na Amazônia cresceu 86% neste ano em relação a 2010, segundo dados de monitoramento por satélite feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pela Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais). A área desmatada com soja subiu de 6.295 hectares em 2009-2010 para 11.698 hectares em 2010-2011.

Izabella afirmou que o desmatamento é "residual" e que a situação já está "controlada". E voltou a culpar pelo pico na devastação a discussão sobre a reforma no Código Florestal na Câmara, no primeiro semestre, que criou no setor produtivo uma expectativa de anistia a desmates ilegais.

"Para a gente foi importante a continuidade da moratória, porque ela diminui a fonte de pressão sobre o Código Florestal no Congresso", disse Paulo Adário, do Greenpeace. Segundo ele, a moratória funciona como uma sinalização para os senadores que hoje analisam a reforma na lei florestal que um grupo importante do agronegócio exportador não quer mais desmatamento.

O aumento no desmate para soja neste ano, porém, causou uma crise interna no GTS (Grupo de Trabalho da Soja), formado por Ministério do Meio Ambiente, Abiove, Anec (Associação Nacional das Exportadoras de Cereais) e ONGs como Greenpeace, WWF e The Nature Conservancy.

As ONGs pressionaram as associações empresariais a exigirem dos produtores de quem compram soja o chamado CAR (Cadastro Ambiental Rural), por meio do qual as fazendas disponibilizam uma imagem de satélite de suas áreas de floresta e tornam-se visíveis ao monitoramento.

A Abiove, por sua vez, teme endurecer demais as regras e afastar os produtores. Apesar de um grupo de grandes compradores de soja da Europa (entre eles McDonald's, Marks and Spencer e Carrefour) já ter declarado na semana passada que faz questão do CAR, o mercado chinês, que não tem exigências ambientais, pode atrair os agricultores.
A solução encontrada foi iniciar um "programa de incentivo" voluntário ao CAR entre os produtores de soja, que começará com "cursos, treinamentos e dias de campo para ensinar o produtor a estruturar o processo do CAR".

"Não podemos vincular o CAR à compra da soja num primeiro momento, porque, para conseguir o CAR, [o produtor] tem de estar em ordem com uma série de atribuições burocráticas", disse Carlo Lovatelli, presidente da Abiove. "Não depende só de nós."


CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA




segunda-feira, 3 de outubro de 2011

À base de açaí, curativo estimula a cicatrização


Dono de conhecidas e importantes propriedades nutricionais, o açaí acaba de receber um novo aval da ciência.  Um estudo realizado na Universidade de São Paulo (USP) descobriu que o óleo do fruto tem alto poder regenerativo e, por isso, está sendo utilizado no desenvolvimento de um curativo de polivinilpirrolidona (PVP).  Esse tipo de curativo, com aspecto gelatinoso e conhecido como hidrogel, já é bastante utilizado em países como o Japão e os Estados Unidos, mas sem nenhum aditivo.  Como é rico em água — boa para a hidratação de ferimentos sem grudar —, a pesquisadora Ana Carolina Ribeiro resolveu melhorá-lo adicionando o óleo de açaí, repleto de ácidos graxos essenciais, como o ômega 3, 6 e 9.  Assim, ele se torna mais eficaz no estímulo à cicatrização de ferimentos.

Segundo a especialista, esses ácidos graxos são utilizados nos processos de regeneração cutânea por possuírem ação bactericida, aumentarem a permeabilidade da membrana celular, promoverem mitose e proliferação celular e auxiliarem no debridamento da pele (limpeza).  O açaí também possui grande quantidade de vitaminas, minerais e antocianinas (responsáveis pela cor).  As antocianinas estão presentes em quantidade 10 vezes maior que nas uvas vermelhas.  Isso é extremamente importante, pois são elas as responsáveis por fazer o vinho ser tão famoso pelos benefícios à saúde — devido à ação antioxidante e de combate os radicais livres.

"Essa composição do óleo de açaí fornece grande poder de regeneração do tecido epitelial, por meio da ação antioxidante, hidratante e reguladora de lipídeos e estimulante do processo de cicatrização", explica Ana Carolina.  Ela conta que que o hidrogel enriquecido com o composto da fruta é posto em contato com a pele como se fosse uma máscara.  O maior desafio da pesquisa foi unir os elementos aparentemente impossíveis de conectar — a água e o óleo.  Foi aí que o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) entrou.  A pesquisadora utilizou radiação controlada para unir as moléculas e, com isso, formou uma rede que conectou os dois elementos.  "Quando submetido à radiação, o PVP fica com a consistência de uma gelatina endurecida", descreve.

De acordo com a especialista, o processo permitiu moldar o curativo no formato desejado e, conforme a dose de radiação, propiciou até a esterilização.  Outro benefício foi a consistência final do curativo, que fez com que o óleo ficasse preso dentro do hidrogel, sendo liberado apenas quando em contato com a pele.  "Pelo meu estudo, tivemos liberação por até 24h", diz.  Esse tempo permite que o curativo seja trocado apenas uma vez por dia e permaneça eficaz.

Medicinal Segundo a nutricionista da Amil Patrícia do Socorro e Silva, o "vinho" do açaí — quando ele é deixado de molho na água, despolpado e misturado, transformando-se em um suco grosso — é uma das formas mais conhecidas do fruto.  Ela sustenta que, embora seja um alimento riquíssimo nutricionalmente, ele é cercado por crenças populares muitas vezes equivocadas.  Uma delas é quanto ao seu alegado alto teor de ferro — provavelmente, pela cor roxa, que lembra outros alimentos fontes de ferro.  "Alguns estudos demonstram que o açaí é pouco expressivo como fonte de ferro, mas altamente energético e excelente fonte de ácidos graxos essenciais — gorduras poli e monoinsaturadas —, que favorecem adequado controle de colesterol e renovação celular.  Esse fato explica a consistência oleosa do fruto", salienta.

Patrícia conta que a alta concentração de compostos fenólicos, principalmente os flavonoides (substâncias antioxidantes), confere ao fruto a característica de alimento funcional, devido à capacidade desse compostos de captar os radicais livres e, consequentemente, de atuar na prevenção de doenças cardiovasculares e circulatórias, do câncer, do diabetes melito e do mal de Alzheimer.  "Estudos mais recentes demonstram também efeitos positivos na prevenção do câncer gástrico, especificamente, por combater a infecção por Helicobacter pylori, bactéria que pode causar a lesão de células gástricas", afirma.

Para a especialista, é importante salientar que sucos e polpas preservam suas propriedades, podendo se transformar em excelentes fontes de antioxidantes.  Também por essas características, ela destaca, o açaí pode colaborar de forma positiva no tratamento de algumas doenças dermatológicas, como acne e dermatite atópica, além de tratamentos antienvelhecimento (que estão, na maioria das vezes, relacionados a processos inflamatórios).

"A grande concentração de ácidos graxos essenciais e de antioxidantes do açaí confere, portanto, enormes benefícios na prevenção e no auxílio no tratamento de diversas doenças", conclui.  Ainda assim, faz-se necessário o incentivo a novas pesquisas, avalia, utilizando o açaí como uma forma de alcançar novas alternativas terapêuticas, principalmente, por ser um fruto de origem e cultivo, exclusivamente, nacional.

A professora da Universidade de Brasília e especialista em frutos regionais Veronica Cortez Ginani conta que o valor nutricional do açaí varia conforme o tipo e a forma de processamento.  A principal fonte energética do açaí é proveniente da porção de gordura.  Os ácidos graxos presentes são, principalmente, o oleico, o palmítico e o linoleico, com funções variadas no organismo humano, participando do metabolismo, como na síntese de hormônios, além de possivelmente estarem envolvidos na reparação de tecidos.


Fonte: Correio Braziliense