sexta-feira, 11 de março de 2011

Problemas financeiros de Jirau podem se repetir em Belo Monte

A empresa Energia Sustentável do Brasil, uma das responsáveis pela construção da usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira (RO), pediu um adicional ao contrato de obras civis de R$ 900 milhões.  Segundo reportagem publicada hoje no jornal Valor Econômico, o custo da usina pode chegar R$ 13 bilhões, 50% a mais do que previsto inicialmente. 

Roland Widmer, coordenador de Eco-Finanças da organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, explica que riscos financeiros, como o aumento dos custos, já haviam sido estimados em 2008, antes do leilão de Jirau, mas ainda assim foram ignorados pelos construtores e governos.

Widmer teme que os erros que estamos vendo agora em Jirau se repitam em outra usina polêmica, a hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA).  "Tudo aponta para que, no caso da usina de Belo Monte, a história se repita.  Seria uma grande irresponsabilidade não aprender com os erros de Jirau."

O projeto Eco-Finanças acompanha os desdobramentos das obras do rio Madeira já há bastante tempo.  O que está acontecendo, por que Jirau precisa de mais dinheiro?

Roland Widmer - O que aconteceu é que a empresa Energia Sustentável do Brasil, que venceu o leilão de Jirau, lá em 2008, decidiu mudar o local de construção da usina para uma cachoeira a nove quilômetros de distância do local original.

A empresa disse que a mudança reduziria a necessidade de escavação de rochas.  Já na época, Eco-Finanças destacou a falta de estudos comprobatórios.  Agora, vemos que para fazer a barragem nesse novo local, a construtora Camargo Corrêa precisa fazer mais escavações, e para isso, precisa de mais dinheiro.

Esse é um dos muitos problemas financeiros com a obra.  De modo geral, em 2008, antes mesmo do leilão, o projeto Eco-Finanças produziu um relatório chamado "Projeto Complexo - Mega-Risco", que fazia uma advertência sobre as várias categorias de risco que as usinas do rio Madeira se inserem.  Infelizmente, esses riscos estão se tornando realidade, não só na obra em si, mas também nas linhas de transmissão essenciais para escoar a energia a ser produzida em Jirau e Santo Antônio.

Quais seriam esses riscos?


Widmer - Os riscos foram bem identificados no relatório.  Por exemplo, o anúncio de que a obra passará a custar R$13 bilhões, e não o valor original de R$ 9 bilhões - um aumento de 50% do valor original - é um exemplo do que chamamos de risco financeiro.  O custo total da obra aumenta, fica mais difícil conseguir retorno.
Além disso, vale lembrar os grandes riscos jurídicos que a usina enfrenta.  São ações na Justiça contra a obra, que podem exigir indenizações, aumentando ainda mais o custo.  Como grande parte da obra é financiada pelo BNDES, é o contribuinte que vai arcar com esse prejuízo.

Outras obras de infraestrutura também estão sujeitas a esse tipo de risco?





Widmer - Tudo aponta para que, no caso da usina de Belo Monte, a história se repita.  Seria uma grande irresponsabilidade não aprender com os erros de Jirau e Santo Antônio.  Pela forma como Belo Monte vem sendo conduzida, é possível prever também grandes riscos financeiros.  Alertamos sobre isso no nosso novo relatório "Belo Monte: Mega-Projeto, Mega-Riscos"


Que tipo de risco já é possível estimar com Belo Monte?


Widmer - São vários.  Um exemplo claro de risco financeiro é o custo da usina.  Ninguém sabe dizer quanto vai custar.  Estimativas iniciais na ordem de R$14 bilhões já foram descartadas.  A expectativa atual é na ordem de R$ 26 a 33 bilhões, e novamente, financiado em grande parte por dinheiro público, pelo BNDES.
Outro problema é a fragilidade do licenciamento ambiental.  Belo Monte enfrenta mais de dez ações na Justiça questionando o processo de licenciamento.




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